segunda-feira, 12 de abril de 2010

Dobermann (FRA, 1997)

Direção: Jan Kounen. Com: Vincent Cassel, Tchéky Karyo, Monica Bellucci, Antoine Basler – Jean-Claude Ayache, Dominique Bettenfeld, Pascal Demolon, Marc Duret, Romain Duris, François Levantal, Ivan Merat-Barboff..

Longa de estreia do diretor Jan Kounen, a história é sobre um criminoso chamado Dobermann, que ganha sua primeira arma já quando é batizado e, adulto, torna-se o líder de uma gangue brutal de ladrões. Depois de um complexo plano de assalto a banco, a quadrilha de Dobermann é perseguida pela polícia de Paris. A busca é liderada por um policial sádico, que fará de tudo para pegar o bandido. O simpático assaltante de bancos vem a ser o mocinho da história e, juntamente com seus amigos, ele forma uma das gangues de assaltantes a banco mais violentas da França. Um dia, a gangue rouba um banco de maneira extremamente violenta. Um investigador da polícia, corrupto até os ossos, decide usar os seus próprios métodos para capturá-la. Para isso, sequestra a namorada de Dobermann, uma cigana surda.

NOTA DO BLOG CINEMA GLBT: embora seja classificado como de ação ou policial, o filme destaca-se mais pelo humor irreverente e corrosivo. Na lista de personagens bizarros, um travesti bissexual rouba a cena ao azucrinar o pai num jantar em família. A excelente dublagem da versão exibida pela tv Bandeirantes, há alguns anos, já garante boas risadas.

sábado, 3 de abril de 2010

Crise de Consciência (1984, EUA)***


Direção: Glenn Jordan. Com: Jack Lemmon, Zeljko Ivanek, Charles Durning, Louise Latham.

Sacerdote católico e complacente vive momenstos de conflito com um jovem seminarista cujos ideais e cujas ideias são opostos porque vê a religião sob uma ótica diversa da ortodoxa. O melhor do filme (baseado em peça de Bill C. Davis) é o conjunto de diálogos travados entre os dois personagens principais, Lemmon e Ivanek. Ambos defendem suas posições: o primeiro, sereno e acomodado, o outro, rebelde e disposto  a não aceitar as velhas regras que julga inadequadas para a Igreja atual. Um razoável estudo de personalidades em que se discutem questões como fé, solidariedade, crises de consciência e religiosidade.

Studio 54 (1998, EUA)


Direção: Mark Cristopher. Com: Ryan Phillippe, Salma Hayek, Neve Campbell, Mike Myers, Sela Ward, Breckin Meyer.

No auge da febre disco music, o Studio 54 foi a boate idealizada por Steve Rubell (Mike Myers), que agitava a vida de Nova York com todo o frenesi que lhe deu reputação internacional. Lá Rubell tentava transformar seu sonho em realidade ao dar as melhores festas que o mundo tinha visto e fazer com que elas durassem para sempre. Em meio à decadência e aos excessos comportamentais da época pré-Aids, Rubell criou um lugar onde a fantasia era a realidade, pois não havia nem rótulos nem regras entre os seus frequantadores, a maioria celebridades do show bizness local e mundial. Diversos acontecimentos que envolvem a famosa discoteca são narrados pela ótica de Shane O'Shea (Ryan Phillippe), um jovem e belo frentista de Nova Jersey que, em 1979, quando tinha dezenove anos, não estava satisfeito com a mesmice da sua vida. Então, vai até Nova York, consegue entrar na discoteca e, em pouco tempo, trabalha como barman depois de atrair a atenção do ambicioso Steve. Shane tem a oportunidade de ver a ascensão e decadência desta famosa casa noturna entre drogas, sexo, bebidas e propostas de sedução de todo o tipo.

Um Caso a Três (1999, EUA)

Direção. Damon Santostefano. Com: Matthew Perry, Neve Campbell, Dylan McDermott, Oliver Platt, Cylk Cozart.

Oscar (Matthew Perry) e seu sócio Peter (Oliver Platt) são arquitetos que estão ansiosos por receber a comissão de US$ 90 milhões de um rico construtor de Chicago, Charles Newman (Dylan McDermott), para construir um gigantesco centro cultural. Só que, por engano, Charles acredita que Oscar seja gay e lhe pede um pequeno favor pessoal: que ele espione sua namorada, Amy (Neve Campbell), numa exposição de esculturas, para certificar-se de que ela não encontrará seu ex-namorado Kevin (Cylk Cozart). Oscar fica inconformado ao ser confundido com um homossexual, mas aceita fazer o favor de olho na gorda comissão que receberá. Só que, ao conhecer Amy, Oscar acaba por apaixonar-se por ela e esconde sua condição de heterosexual com medo de que o negócio com Charles vá por água abaixo.

Abaixo O Amor (2003, EUA/ALE)

Direção: Peyton Reed. Com: Renée Zellweger, Ewan McGregor, David Hyde Pierce, Sarah Paulson, Tony Randall, Rachel Dratch, Jack Plotnick.

Barbara Novak (Renée Zellweger) é uma escritora feminista que, em plenos anos 1960, escreve um best-seller chamado, no qual aconselha mulheres desiludidas com a vida amorosa a manterem apenas relacionamentos casuais, focando mais a conquista do sucesso profissional e sua própria independência. O tremendo sucesso do livro faz com que Catcher Block (Ewan MacGregor), um repórter mulherengo e sedutor, decida envolver-se com Barbara apenas para preparar um artigo e mostrar ao mundo que ela nada mais é do que uma fraude. O título original, Down With Love, faz referência a uma canção de mesmo nome cantada por Judy Garland, que é também a canção-tema do filme.

NOTA DO BLOG CINEMA GLBT: ao usar e abusar da estética do chamado "mondo lounge", que vigorou na comédia romântica hollywoodiana até o início dos anos 1960, tudo no filme beira à divertida afetação, do clima acentuadamente "camp" à cenografia multicolorida - que tende para os tons de rosa. Além das caras e bocas da protagonista, há insinuações sobre a sexualidade do solteirão convicto Catcher e seu melhor amigo.

Rua 42 (1933, EUA)*****


Direção: Lloyd Bacon. Com: Guy Kibbee, Bebe Daniels, Warner Baxter, Ginger Rogers, Ruby Keeler.

História da preparação de um show que será o ápice da carreira de um famoso produtor de teatro musical dos anos 1930. Clássico do musical, com números marcantes de Ruby Keeler, Bebe Daniels e da então jovem Ginger Rogers. A trlha sonora traz sucessos musicais da época, compostos pela dupla Harry Warren e Al Dubin: Young and Healthy, You´re Getting Be A Habbit With Me, Shuffle Off in Buffalo, entre outros. A coreografia, a cargo do genial Busby Berkley, é um  delírio de ritmo e visual. O estilo de arregimentação de massas e de manipulação dos dançarinos como objetos de decoração em formas geométricas fez escola e marcou época. O espetáculo foi reapresentado na Broadway nos anos 1980.

NOTA DO BLOG CINEMA GLBT: o exigente diretor do espetáculo que será apresentado, a uma certa altura, revela ao seu assistente de palco o desejo de, em breve, ser substituído por ele. Depois disso, convida-o para "sair" com ele. Em várias passagens do filme, há outros diálogos de duplo sentido, de franca conotação sexual, procedimento comum em produções musicais no cinema hollywoodiano do período pós-Grande Depressão.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Henry & June (1990, EUA)***


Direção: Philip Caufman. Com: Fed Ward, Uma Thurman, Maria de Medeiros, Richard E. Grant, Kevin Spacey, Jean-Philippe Ecoffey.

Em Paris, no início dos anos 1930, a mulher espanhola de um cineasta francês, Anais Nin (1903/1977), entrega-se a Henry Miller (1891/1980), escritor americano, então pouco conhecido, casado com uma ex-taxi-girl. O quarteto mantém entre si uma estranha relação de amizade e sexo. Essa adaptação de uma parte dos diários de Anais Nin, feita pelo diretor de A Insustentável Leveza do Ser e inicialmente considerada pornográfica pela Motion Picture Association of America, só foi liberada para maiores de 17 anos após muita "briga". O espectador não deve esperar, porém, o tom terrivelmente cáustico , agressivo e sexual dos livros de Miller (que na época enfocada escrevia Trópico de Câncer). O filme é tão bucólico, literário, cerebral e lento que as poucas cenas eróticas, inclusive as de lesbianismo, mais entediam do que provocam. Nada a ver, portanto, com os escândalos dos livros de Miller, e tudo a ver com o tom poético dos escritos de Nin. Isso talvez porque Kaufman seja admirador confesso da escritora (Maria de Medeiros, portuguesa, excelente atriz de teatro). Destinado a um público específico, tem elaborada fotografia de Phillippe Russelot e conta com a beleza notável de Uma Thurman, a Vênus de As Aventuras do Barão de Münchausen. Roteiro do diretor e de sua mulher, Rose.

Escondendo A Grana (1970, ING)***

Direção: Silvio Narizzano. Com: Richard Attenborough, Lee Remick, Hywell Bennett, Milo O´Shea, Roy Holder, Dick Emery, Joe Lynch.

Jovem homossexual e seu amante, motorista de uma funerária, roubam um banco e escondem o dinheiro no caixão da mãe do primeiro, que está prestes a ser enterrada. Inspetor da Scotland Yard investiga o caso e provoca uma série de confusões. Irreverência e humor negro em adaptação da peça de Joe Orton (biografado em O Amor Não Tem Sexo). A inteligência dos diálogos, as situações inusitadas e a surpreendente intrepretação de Attenborough (diretor de Gandhi), parodiando o Inspetor Clouseu de Peter Sellers, compensam o empoeirado tom "anos 1960" do filme.

Coronel Redl (1985, ALE/HUN/AUS)*****

Direção: István Szabó. Com: Klaus Maria Brandauer, Armin Müller-Stahl, Gudrun Landgrebe, Jan Niklas, Hans-Christian Blech, Laszlo Mensaros.

Jovem de origem humilde faz amizade com pessoas influentes e inicia carreira no círculo fechado de oficiais do Exército do Império Austro-Húngaro nos anos anteriores à I Guerra Mundial; chega ao posto de coronel e chefe do Serviço de Inteligência, homem de confiança de ministros, mas cada vez mais vulnerável. Mais uma obra-prima da equipe que produziu Mephisto (1981), desta vez contando a história de um personagem real (e também inspirada na peça A Patriot For Me, de John Osborne). Brandauer está soberbo no papel-título. Zdenko Tamassy, que já demonstrara sua competência em Mephisto, dá aqui nova aula de como utilizar a música no cinema (atenção para a ironia do trecho em que ele usa a conhecida Marcha Radetzky, de Johann Strauss, pai, composta em homenagem ao lendário herói austríaco, Marechal Radetzky).

O Amor Não Tem Sexo (1986, ING)****

Direção: Stephen Frears. Com: GaryOldman, Alfred Molina, Vanessa Redgrave, Wallace Shawn, , Julie Walters, Frances Barber.

Os últimos dias de vida do famoso dramaturgo inglês Joe Orton, assassinado por seu amante, que desconfiava estar sendo traído. Quase um documentário, descreve um pouco da personalidade desse homem talentoso e vaidoso, que gostava de trocar de parceiros sexuais caçando-os em banheiros públicos de Londres. Vanessa Redgrave faz rápida aparição enriquecendo mais ainda esse que é um dos melhores filmes sobre homossexualismo já realizados.

Mistérios da Carne (2004, EUA)

Direção: Gregg Araki. Com: Kelly Joseph Gordon-Levitt, Brady Corbet, Elisabeth Shue, Michelle Trachtenberg, Bill Sage, Chris Mulkey.


"A grande surpresa de Mistérios da Carne não está na primeira evidência que o filme entrega – a de um trauma originário que repercute de forma absolutamente antagônica na vida de dois adolescentes. Nem na estilização – a meio caminho entre o virtuosismo e o acometimento profundo em relação ao assunto em questão – que seu diretor/roteirista/montador Gregg Araki depura ao longo de 99 minutos. O que espanta e deslumbra neste filme são as saídas, sempre cativantes, que ele encontra diante das suas muitas sinucas de bico. O trauma deixa de ser assunto psicanalítico à mesma medida que não se esconde em figuras de recalque: é pela construção de um imaginário – fantasia romântica de um verão perdido no tempo ou fábula sci-fi de abdução por alienígenas – que Mistérios da Carne retorna à cena inaugural da história que conta, ou seja, ao abuso sexual de duas crianças por um adulto. Mas talvez o filme torne inapropriada essa expressão outrora inequívoca, "abuso", tamanha a peculiaridade de seu relato.
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Neil leva a cicatriz para dentro da carne, revisitando-a todos os dias ao prostituir-se para homens mais velhos. Eterno desejo de imagem, para um, e eterno desejo de corpo, para outro. Mas o mistério é o mesmo: a história de aliens e a aventura por motéis e boates guardam uma origem comum, são homólogas e portanto inseparáveis. Ou melhor: devem se reatar um dia (como acontece no final). Esse episódio que aparentemente só pediria um tratamento, o do repúdio e do asco, rende para Gregg Araki um misto de sobriedade e obnubilação. Ele pôs a interrogação de parti pris que nenhum outro filme anterior que tratasse do mesmo assunto havia posto de verdade: nós adultos só conseguimos olhar para a pedofilia do treinador com ares reprovadores e indignados, mas o que um acontecimento como esse representa na mente da criança que o vivencia? A partir dessa crucial interrogação, o filme não consegue se fixar nem na sordidez nem na doçura (pois doce é a forma do treinador se aproximar dos meninos), e se torna todo ele uma paisagem tão turva quanto interior – ainda que essa paisagem se dê a ver na pele, nos rostos (maquiados ou não), nas paredes com pôsteres ou pichações, nos signos externos. A fronteira entre os planos subjetivos e aqueles mais próximos de um registro direto se torna aqui bastante oscilatória.
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Não é fácil saber toda a verdade e ter de lidar com ela constantemente, como Neil confessa a Brian. Dali em diante tudo mudará para melhor? Ou será ladeira abaixo? Resposta que não cabe ao filme induzir. O importante é ter em mente que descer a ladeira, em Mistérios da Carne, não significa perder a viagem, ou muito menos passar ao largo da beleza que pode existir na trajetória de vida de uma pessoa. Até onde o filme se permite ir, sobressai a vontade expressa em palavras por Neil, e que Araki realiza ao fazer o espaço ao redor deles sumir e a câmera se distanciar para atingir a escuridão do céu noturno, aquele em que se insinuam as estrelas, os cometas e os discos voadores. Desaparição: desejo maior que a vida, porém inegável neste filme."


Luiz Carlos Oliveira Jr.  in http://www.contracampo.com.br/75/misteriosdacarne.htm

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Thelma e Louise (1991, EUA)****

Direção: Ridley Scott. Com: Susan Sarandon, Geena Davis, Harvey Keitel, Michael Madsen, Christopher MacDonald, Stephen Tobolowsky, Brad Pitt.

Jovem maltratada pelo marido e uma garçonete quarentona desiludida com a vida e com os homens saem sozinhas de férias. Num bar de estrada, a jovem bebe e dança com um sujeito que depois tenta estuprá-la, e é assassinado pela outra. Perseguidas pela polícia, elas tentam atingir o México cruzando o deserto de Utah num velho Thunderbird, e chegam ao Grand Canyon. O roteiro da estreante Callie Khoury, ex-garçonete - levou o Oscar da categoria - parece a versão feminina de personagens, temas e situações caros ao cinema americano: a liberdade individual, o herói solidário e errante, a ineficiência das autoridades, a justiça pelas próprias mãos. Nesse sentido, é muito mais aparentado com histórias famosas, como as de Butch Cassidy, Bonnie & Clyde - Uma Rajada de Balas, do que com o ciclo de filmes que denunciam o machismo. Não à-toa, arrebatou o Globo de Ouro de roteiro original. O mais marcante nesse filme do diretor de Blade Runner é a presença de homens ineptos, egoístas e grosseiros ou paternalistas. Junto com a dupla de protagonistas, uma das mais charmosas do cinema americano recente, a narrativa esperta e o entrosamento perfeito entre interiores e exteriores criam um espetáculo de forte impacto, que culmina na alegórica sequência do Grand Canyon. O filme destaca-se também por ser uma tragédia que não se utiliza de expedientes fáceis evitando o sentimentalismo, a autocomiseração e a crítica social apelativa através do bom humor. A trilha sonora, marcada por county-rocks, inclui melodias com a guitarra lânguida à Paris, Texas.