segunda-feira, 7 de julho de 2008

Segredos de Uma Novela (1991, EUA) ***


Direção: Michael Hoffman. Com: Sally Field, Kevin Kline, Robert Downey Jr, Cathy Moriathy, Whoopi Goldbreg, Elisabeth Shue, Carrie Fisher, Garry Marshall, Teri Hatcher.

Premiada atriz de telenovela enfrenta as agruras da profissão ao saber que seu novo galã será seu ex-marido. Paralelamente, outra atriz seduz o produtor e faz de tudo para prejudicar a consagrada colega. Apesar de alguns exageros (caso da desastrada visita da protagonista ao apartamento do ex-marido), o roteiro oferece um divertido e fiel retrato do verdadeiro turbilhão que envolve os atores no que diz respeito ao seu egocentrismo, às suas vaidades e aos seus anseios emocionais. O epílogo, surpreendente, é extremamente engraçado: lava toda a roupa suja do elenco diante de milhões de expectadores. Esta desvairada farsa conta ainda com bons atores, entre os quais se destacam Field (Norma Rae) e Kline (Um Peixe Chamado Wanda). O diretor Marshall (Uma Linda Mulher) participa como um dos cvhefes de estúdio. A ótima Whoopi (Ghost), porém, tem um papel pequeno demais - que desperdício!

Vida Nua (1975, ING) ***


Direção: Jack Gold. Com: John Hurt, Liz Gebhardt, Patricia Hodge, Colin Higgins, John Rhys-Davies.

Biografia de Quentin Crisp, homossexual que assumiu sua condição na Londres dos anos 1940. Telefilme da BBC, com roteiro debochado de Phillip Mackie, forma encontrada para traduzir, dramaticamente, a própria personalidade de Crisp, que ajudou na elaboração do filme. A interpretação de Hurt reproduz toda a afetação de Crisp - que pode parecer uma caricatura, mas é apenas uma composição fiel à realidade. O roteiro pula no tempo, foca-se em momentos cruciais e estende-se até a década de 1970.

O Gigolô Americano (1980, EUA) **


Direção: Paul Schrader. Com: Richard Gere, Lauren Hutton.

Um profissional do amor apaixona-se por uma cliente e passa a enfrentar problemas daí decorrentes. Um filme estilizado e frio, mas elegante, que lança Gere como "símbolo sexual". A trilha musical de Giorgio Moroder fez sucesso na época.

Caravaggio (1986, ING) ***


Direção: Derek Jarman. Com: Nigel Terry, Sean Bean, Michael Gough.

Biografia aventuresca do pintor italiano Michelangelo Merisi Caravaggio, que tinha tanto talento para a pintura quanto para a vida mundana. Elenco competente no qual se destaca Nigel Terry (Excalibur). Em meados dos anos 1980, o diretor Jarman foi um dos mais polêmicos expoentes da então nova safra de diretores ingleses.

A Ópera do Malandro (1985, BRA) ***


Direção: Ruy Guerra. Com: Edson Celulari, Ney Latorraca, Cláudia Ohana, Fábio Sabag, Elba Ramalho.

Bandidos cheios de humanismo e mocinhas meio marginais numa história agradável, com a qual o diretor transpõe para o cinema a peça de Chico Buarque de Holanda, por sua vez inspirada em A Ópera dos Três Vinténs, de Bertold Brecht. Uma versão divertida e solta, caracteristicamente brasileira, ambientada nos anos 1940, época da II Guerra Mundial. Boas canções na trilha sonora (algumas não estão no LP duplo original da peça de Chico). Destaque para a presença do ator Edson Celulari.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Manequim (1987, EUA) ***


Direção: Michael Gottlieb. Com: Andrew McCarthy, Kim Cattrall, Estelle Getty, G. W. Bailey, James Spader, Carole Davis.


Empregado de um magazine faz vitrinas muito atraentes, auxiliado por uma princesa egípcia vinda do passado. Ela disfarça-se de manequim. O diretor não tem o talento de Frank Capra, o mestre cujo estilo é lembrado nesse filme, que, contudo, é divertido. G. W. Bailey (o sargento da série Loucademia de Polícia) faz um guarda-noturno da loja (acompanhado de um cachorro buldogue que é a cara dele).

Uma Questão de Amor (1978, EUA) ***


Direção: Jerry Thorpe. Com: Gena Rowlands, Jane Alexander, Ned Beatty, Bonnie Bedelia, Jocelyn Brando, Clu Gulager.

Enfermeira separada e seus dois filhos (um adolescente e um menino) moram com a amante e a filha dela. Ao saber da relação lésbica da mãe, o rapaz conta ao pai, que exige a guarda do caçula. O caso vai parar num tribunal. História verdadeira, com roteiro de William Blinn, narrada com competência e sobriedade, como é freqüente nas produções feitas para a TV. Ótimos desempenhos, principalmente o de Gena Rowlands como Linda Rae. No papel de sua mãe está Jocelyn Brando, irmã de Marlon. A maior parte do filme trata das questões jurídicas, mantendo o ritmo, a tensão e a expectativa. Narrativa pesada, mas emocionante e informativa.

O Fiel Camareiro (1983, ING) ****


Direção: Peter Yates. Com: Albert Finney, Tom Courtenay, Edward Fox, Zena Walker, Eileen Atkins.

Velho ator shakespeariano só faz sucesso graças à constante presença de seu fiel e compreensivo camareiro. Belas interpretações de Finney e Courtenay. Indicado para quem gosta de filmes sobre as obras de Shakespeare. Baseado em peça de Ronald Hardwood.

Paixão Selvagem (1976, FRA) *


Direção: Serge Gainsbourg. Com Jane Birkin, Joe Dallesandro, Huges Quester, Gérard Depardieu, Michel Blanc.

Dois caminhoneiros mantêm relações homossexuais, mas seu romance é tumultuado quando um deles se apaixona por uma mulher com aparência de rapazinho. O cantor e compositor Gainsbourg fez este filme para escandalizar. Participações especiais de Gérard Depardieu e Michel Blanc (que depois formariam o casal homossexual de Meu Marido de Batom).

quinta-feira, 3 de julho de 2008

O Segredo de Brokeback Mountain (2005, EUA)


Direção: Ang Lee. Com: Heath Ledger, Jake Gyllenhaal, Michelle Williams, Anne Hathaway, Randy Quaid, Linda Cardellini, Anna Faris, Scott Michael Campbell, Kate Mara, Cheyenne Hill, Brooklynn Proulx, Tom Carey.

'Eu não queria ver o filme O Segredo de Brokeback Mountain. Não queria. Ver filme de viados, eu? (Escrevo viado porque, como disse Millôr, quem escreve “veado” é viado). Muito bem; eu resistia à idéia, mais ou menos como o Larry David (o roteirista de Seinfeld) disse, num artigo engraçadíssimo, que tinha medo de virar gay se ficasse emocionado.
O viado sempre encarnou a ambigüidade de nossos sentimentos. Claro que, hoje, os civilizados todos dizem que “tudo bem, que são contra a homofobia” e todo o bullshit costumeiro. Eu mesmo já fiz filmes em que viados são protagonistas, em que o ator principal escolhe o homosexualismo no final (Toda Nudez Será Castigada), já filmei travesti em Eu te Amo e em Eu Sei Que Vou te Amar, além da biba louca de O Casamento, em que o grande ator André Valli dá um show inesquecível. Em todos os meus filmes há uma boneca ativa e digna. E, no entanto, eu não queria ver o tal filme do Ang Lee, apelidado pelos machistas finos de “Chapada dos Viadeiros”. Minhas razões eram mais discretas, intelectuais: “Ah... porque o Ang Lee é um cineasta mediano, ah... porque será mais um filme politicamente correto, no qual o amor de dois caubóis é justificado romanticamente... Vou fazer o quê no cinema? Ver mais um panfletinho que ensina que os gays devem ser compreendidos em seu 'desvio'? "Não. Não vou”, pensei. Aliás, eu sou do tempo em que os viados apanhavam na cara em plena rua. Havia pouquíssimos gays declarados no Brasil. No Rio, havia Murilinho... cantor de fox em boates, havia Clovis Bornay e poucos outros... O viado passava na rua sob os rosnados dos boçais prontos para lhes tirar sangue. E, no anonimato, enxameavam os pobres “pederastas”, de terno e gravata, pais de família esgueirando-se nas esquinas, nas noites escuras, em busca de satisfação. Mais tarde, com o tempo, surgiram as “bichas loucas”, que se assumiam com um toque de autoflagelação, de autoderrisão, caricaturas da mãe odiada e amada, que berravam e desfilavam nos carnavais num freje humorístico, que até hoje alimenta nossos shows na TV. A “bicha” virou uma personagem clássica do humor, como os palhaços e os bacalhaus de circo. E tudo bem... são engraçados mesmo. Depois, com os direitos civis dos anos 1960, surgiu o gay power, com homossexuais fortes e de bigode, malhados, cheios de orgulho. A viadagem virou um poder político importante, claro, mas até meio sério demais, aspirando a uma “normalidade” que contrariava sua “missão” trangressiva que tanto nos acalmava. Como disse Paulo Francis, um dia, sacaneando-os: “Se esses caras querem todos os direitos e deveres dos caretas como nós, qual é então a vantagem de ser viado?” Em suma, por mais que "aceitemos" os gays, eles sempre foram uma fonte de angústia, pois atrapalham nosso sossego, nossa identidade "clara". O gay é duplo, é dois, o viado tem algo de centauro, de ameaçador para a unicidade do desejo. A bicha ou o travesti, a biba doida ou o perobo, o boy, o puto, a santa, a tia, a paca, todos eles nos tranqüilizavam com suas caricaturas auto-excludentes. Já o gay sério inquieta. O gay banqueiro, o gay de terno, o gay forte, o gay caubói são muito próximos de nós, a diferença fica mínima. Por isso, eu não queria ver o tal filme dos caubóis. Como? Caubói de mãos dadas, dando beijos românticos, com tristes rostos diante do impossível? Não. Eu, não. Mas, aí, por falta de programa, "distraidamente"... (aí, hein, santa?...) fui ver o filme. E meu susto foi bem outro. O filme não me pedia aprovação alguma para o homossexualismo, o filme não demandava minha solidariedade. Não. Trata-se de um filme sobre o império profundo do desejo, e não uma narração simpática de um amor "desviante". O filme impõe-se assustadoramente. Os caubóis jovens e fortes amam-se com um tesão incontido e são tomados por uma paixão que poucas vezes vi num filme, hetero ou não. Foi preciso um chinês culto para fazer isso. Americano não agüentava. Nem europeu, porque iria ficar filosofando. Brokeback é imperioso, realista, sem frescuras. Eu fiquei chocado, dentro do cinema, quando os dois começam a transar subitamente, beijando-se na boca com a fome ancestral vinda do fundo do corpo. O filme não demandava a minha compreensão. Eu é que tinha de pedir compreensão aos autores do filme, eu é que tive me adaptar-me à enorme coragem da história de Ang Lee. Eu é que precisava de apoio dentro do cinema, flagrado, ali, desamparado no meu machismo "tolerante". Eu é que era o careta, eu é que era o viado no cinema, e eles, os machos corajosos, desejando-se não como pederastas passivos ou ativos, mas como dois homens sólidos, belos e corajosos, entre os quais um desejo milenar explodiu. Não há no filme nada de gay, no sentido alegre, ou paródico ou humorístico do termo. Ninguém está ali para curtir uma boa perversão. Não. Trata-se de um filme de violento e poderoso amor. É dos mais emocionantes relatos de uma profunda entrega entre dois seres, homos ou heteros. Acaba em tragédia, claro, mas não são "vitimas da sociedade". Não. Viveram acima de nós todos porque viveram um amor corajosíssimo e profundo. Há qualquer coisa de épico na história, muito mais do que romântica. Há um heroísmo épico, grego, como entre Aquiles e Pátroclo da "Ilíada", algo desse nível. O filme não é importante pela forma, linguagem ou coisa assim. Não. Ele é muito bom por ser uma reflexão sobre a fome que nos move para os outros, sobre a pulsação pura de uma animalidade dominante, que há muito tempo não vemos no cinema e na literatura, nesses tempos de sexo de mercado e de amorezinhos narcisistas. Merece os Oscar que ganhou. Este filme amplia a visão sobre nossa sexualidade'.
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Arnaldo Jabor
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Hotel muito Louco (1984, EUA) ***


Direção: Tony Richardson. Com: Rob Lowe, Jodie Foster, Paul McCrane, Beau Bridges, Nastassja Kinsky, Wallace Shawn, Wilford Brimley, Jennie Dundas, Matthew Modine, Amanda Plummer, Seth Green.

Um professor e sua família vivem obcecados com a idéia de ir morar em um hotel e acabma por realizar esse sonho. Mas todos os personagens - inclusive criados e hóspedes do hotel - nada têm de convencional e envolvem-se em aventuras sociais, políticas e sexuais bizarras. Para público disposto a arriscar uma diversão cinematográfica fora dos padrões habituais, no estilo solto e mordaz do diretor de Tom Jones. Baseado no romance de John Irving.

terça-feira, 1 de julho de 2008

A Cor Púrpura (1985, EUA) ****


Direção: Steven Spielberg. Com: Danny Glover, Adolph Caesar, Whoopi Goldberg, Margareth Avery, Oprah Winfrey, Rae Dawn Chong, Akosua Busia.

Adolescente negra da Geórgia, no sul dos EUA, é engravidada pelo próprio pai, que a separa dos filhos, da irmã (sua melhor amiga) e a entrega a um negro dono de terras, com quem ela se casa. O marido, no entanto, passa a tratá-la como escrava. Em cartas dirigidas a Deus, ela conta suas frustrações. A história, baseada em romance de Alice Walker, começa em 1909 e acompanha os personagens, durante quarenta anos, num painel ambicioso e melodramático da presença negra na história do país. Tecnicamente excepcional, com brilhante uso da fotografia e da trilha sonora (composta pelo também produtor Quincy Jones), o filme abusa de clichês sentimentais para arrancar lágrimas da platéia. Feito para ganhar o Oscar, foi indicado em onze categorias, mas não venceu em nenhuma.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Onda Nova (1984, BRA) **


Direção: José Antônio Garcia. Com: Carla Camuratti, Tânia Alves, Regina Casé, Vera Zimmermann.


Grupo de mulheres cria o Gayvotas Futebol Clube, onde o assunto principal é a discussão sobre as preferências sexuais de homens e mulheres. Tentativa frustrada de os diretores repetirem o êxito do seu filme anterior, O Olho Mágico do Amor. Participações especiais de Caetano Veloso e dos jogadores Casagrande e Vladimir. De qualquer forma, o roteiro prega o prazer pelo prazer, o amor (quase) livre com sugestões e cenas lésbicas e homossexuais.

Violência e Paixão (1974, ITA/FRA) ****


Direção: Luchino Visconti. Com: Burt Lancaster, Silvana Mangano, Helmut Berger, Dominique Sanda, Claudia Cardinale.

Vida de velho professor muda completamente com a chegada de novo vizinho, jovem rebelde. Realização impecável, com elenco de primeira. É o penúltimo filme de Visconti.

Somos Todos Católicos (1985, EUA) **


Direção: Michael Dinner. Com: Donald Sutherland, Andrew McCarthy, Mary Stuart Masterson, John Heard, Kevin Dillon, Wallace Shawn, Patrick Dempsey.

Grupo de alunos de tradicional colégio católico inverte as regras do comportamento na escola e envolvem-se em confusões com pastores, mulheres e vigaristas nos dias em que o Papa visita os Estados Unidos. A maioria das situações cômicas é forçada, mas há alguns momentos bem engraçados.

Os Bostonianos (1984, EUA/ING) ***


Direção: James Ivory. Com: Vanessa Redgrave, Christopher Reeve, Jessica Tandy, Nancy Marchand, Linda Hunt, Wallace Shawn.

Um cavalheiro e uma feminista disputam o amor de uma jovem na conservadora Boston do século XIX. Requintadíssima reconstituição de época e magníficas atuações numa versão suavizada do texto de Henry James.

Na Cama com Madonna (1991, EUA) ***


Direção: Alek Keshishian.


Registro da turnê mundial Blond Ambition, de Madonna, realizada no segundo semestre de 1990. As apresentações musicais são intercaladas com depoimentos e cenas de bastidores. Como documentário, o filme não surpreende. Os números musicais são a cores enquanto todo o resto do material (que não foge do conteúdo habitual) é fotografado, granuladamente, em preto-e-branco. O extraordinário fica por conta do modo como um dos maiores mitos da mídia dos anos 1980 se permite expor. Para quem não gosta de sua música, sobra a personalidade forte e bizarra (ela declara amor eterno a Sean Penn, chupa uma garrafa, execra Kevin Costner, confessa suas fantasias sobre o ator Antonio Banderas, desnuda seus bailarinos, apologiza a homossexualidade, revela-se profundamente religiosa), num retrato com bons e engraçados momentos. A ego-trip, porém, é extensa demais e pode cansar já que Madonna é tão manhosa quanto polêmica.

Spartacus (1960, EUA) *****


Direção: Stanley Kubrick. Com: Kirk Douglas, Laurence Olivier, Jean Simmons, Charles Laughton, Peter Ustinov, Tony Curtis, John Gavin, Nina Foch, Herbert Lom, John Ireland, Charles McGraw, Woody Strode.

Em 73 a.C., o gladiador Spartacus lidera uma rebelião de escravos contra a classe dirigente da República Romana. Superprodução baseada no romance histórico de Howard Fast. O tom engajado desse épico deve-se ao roteiro de Dalton Trumbo, um dos "Dez de Hollywood" que integraram a lista negra elaborada pelo senador McCarthy durante a caça às bruxas. Trumbo foi preso em 1950 depois de condenado pelo comitê da Câmara que investigava as atividades "anti-americanas". Como sempre, Kubrick entra num gênero par marcá-lo com seu perfeccionismo e a sua visão pessoal do cinema e do mundo. Notável trilha sonora de Alex North. Ganhador de quatro Oscar, incluindo o de melhor ator coadjuvante para Peter Ustinov e o de fotografia para Russell Metty.

Domingo Maldito (1971, ING) ***


Direção: John Schlesinger. Com: Peter Finch, Glenda Jackson, Murray Head, Peggy Ashcroft, Tony Britton, Maurice Denham, Daniel Day-Lewis.

O amor entre três pessoas deteriora-se quando começam a exigir demais umas das outras. A mulher ama um deles, que, por sua vez, tem como amante o outro. A viagem de um deles romperá o triângulo. Ousado para a época, este drama sombrio e lento é hoje lembrado apenas pelo beijo que Murray Head dá em Peter Finch e pela visão um tanto livre do homossexualismo. O trio e o triângulo de intérpretes (também com Glenda Jackson) é excelente, mas não procure significados e muito menos emoções humanas no roteiro de Penelope Gilliant, pois tudo é britanicamente contido e contado. Daniel Day-Lewis faz uma ponta.

Luzia-Homem (1987, BRA) *


Direção: Fábio Barreto. Com: Cláudia Ohana, José de Abreu, Thales Pan Chacon, Luiza Falcão.

Moça que adota costumes masculinos no sertão - briga e monta a cavalo como um verdadeiro "cabra-macho" - descobre o seu lado feminino, antes reprimido, ao apaixonar-se. Baseado no romance regionalista de Domingos Olímpio, escrito em 1903, o filme não foge aos padrões estéticos de uma telenovela. Só a beleza de Cláudia Ohana lhe confere algum interesse.

Ele É Minha Garota (1987, EUA) **


Direção: Gabrielle Beaumont. Com: T. K. Carter, David Hallyday, Misha McK, David Clennon, Warwick Sims, Jennifer Tilly.

Roqueiro do interior ganha concurso para passar uma semana em Hollywood, mas precisa levar uma garota junto. Seu melhor amigo veste-se de mulher e finge que é sua namorada. Os menos exigentes vão divertir-se com algumas boas piadas e as confusões previsíveis. O ator negro T. K. Carter, como travesti, vale o show.

Decameron (1970, ITA) ***


Direção: Pier Paolo Pasolini. Com: Ninetto Davoli, Franco Citti, Angela Luce, Patrizia Capparelli, Jovan Jovanovic, Pier Paolo Pasolini, Silvana Mangano.

Dez contos contidos no Decameron, de Bocaccio (1313-1375), descrevendo em forma de sátira a vida cotidiana de Nápoles. É a primeira e menos interessante parte da "Trilogia da Vida" (as outras são Os Contos de Canterbury e As Mil e Uma Noites), que Pier Paolo Pasolini (assassinado por um prostituto, em 1975, num caso nebuloso) dirigiu e provocou escândalo. Ele faz Giotto (1266-1337), o primeiro pintor que utilizou homens do povo como modelos de retratos de santos, e por isso foi perseguido. As histórias falam de artimanhas, hipocrisia, ingenuidade, trapaças e anticlericalismo. Embora interessante e criativo, o filme mal provoca empatia e é lento demais. Contudo a recriação de época é impressionante. A belíssima Silvana Mangano faz a Virgem Maria que aparece nos sonhos e nas pinturas de Giotto. Para garantir o objetivo do diretor, em vez da versão falada em Inglês, é imprescindível manter o dialeto napolitano, o mesmo das canções folclóricas, mantidas em dialeto e sem legendas.

As Aventuras de Erik, O Viking (1989, ING) ***


Direção: Terry Jones. Com: Tim Robbins, Gary Cady, Terry Jones, Mickey Rooney, John Cleese, Eartha Kitt.

Guerreiro viquingue, ainda virgem e muito sensível, perturbado por matar involuntariamente uma mulher, resolve apelar aos deuses para acabar com a mortandade, saques, estupros e vilanias e conseguir a volta do Sol, encoberto por um lobo lendário. Terry Jones (que interpreta o rei de Hy-Brazil), do grupo Monty Python, dirigiu este filme baseado num conto infantil de sua autoria. Imagens opulentas, situações surpreendentes, muito sarcasmo e total irreverência para com o pensamento religioso (inclusive cristão), como é habitual nos filmes dos integrantes do grupo. Apesar disso, a dose de humor não é tão grande quanto nos melhores filmes do Monty Python. Entre as várias curiosidades, está o nome da terra que os viquingues devem encontrar, situada além do fim do mundo, chamada Hy-Brazil: o rei é homossexual, a música é horrorosa, e os habitantes são absolutamente incapazes de exergar a realidade. O avô de Erik é interpretado por Mickey Rooney, veteraníssimo ator de Hollywood.

Imensidão Azul (1988, EUA/FRA) **


Direção: Luc Besson. Com: Jean-Marc Barr, Jean Reno, Rosanna Arquette, Paul Shenar, Sergio Castellito, Griffin Dunne.

As aventuras do mergulhador Jacques Mayol, por muitos considerado sobre-humano pela sua intimidade com o universo aquático, e sua rivalidade com um amigo de infância. Ambos disputam o recorde de mergulho em profundidade. Como em Subway, o diretor Besson exercita o seu senso estético num filme que se apóia exclusivamente na belíssima fotografia. Mesmo tendo Rosanna Arquette como contraponto dramático e romântico, o filme é apenas uma sucessão de mergulhos cada vez mais prolongados e perigosos. O silêncio constante pode transformar-se num convite quase irrecusável à monotonia.


NOTA DO BLOG CINEMA GLBT: o ritmo lento filme é compensado pelo realismo fantástico aplicado a algumas cenas e pela bonita fotografia. Dois amigos de infância, apaixonados platonicamente um pelo outro, sublimam o amor através de mergulhos cada vez mais fundos e arriscados - metaforicamente, tentam compensar o sentimento "proibido", que dramaticamente não se consuma e que, ao contrário dos mergulhos, torna-se cada vez mais "raso", mais impossível. Em nossa opinião, nerece três estrelas.

domingo, 29 de junho de 2008

Memórias de Um Espião (1984, ING) ***


Direção: Marek Kenievska. Com: Rupper Everett, Colin Firth, Betsy Brantley.

Um espião anglo-soviético revela a um jornalista seu passado num colégio, onde desenvolveu sua homossexualidade até ser descoberto e punido. Baseado numa peça de Julian Mitchell, o filme é um ensaio sério (mas cansativo) sobre a marginalização dos dissidentes, inspirado em personagens reais, os espiões Guy Burgess e Donald Maclean.

Quanto mais Quente, Melhor (1959, EUA) ****


Direção: Billy Wilder. Com: Jack Lemmon, Tony Curtis, Marilyn Monroe, Joe E. Brown, George Raft.

Dois músicos desempregados envolvem-se por acaso num massacre de gângsteres. Perseguidos, disfarçam-se de instrumentistas de uma banda de mulheres. Para ver e rever sempre: derruba qualquer mau humor. Grande atores, direção segura e produção cuidadosa. Baseado no musical Sugar, sucesso da Broadway.

O Cinema Falado (1986, BRA) ***


Direção: Caetano Veloso. Com: Regina Casé, Antônio Cícero, Paula Lavigne, Dedé Gadelha, Elza Soares, Chico Dias, Maurício Mattar.

Colagem de vários depoimentos, performances, clipes, reflexões e ensaios cujo ritmo e cuja unidade têm aspecto inovador. Reflete os pensamentos de seu diretor, que se inspirou em programas de entrevistas na TV para a sua realização. É preciso estar muito familiarizdo com o trabalho de Caetano Veloso para compreender esse filme, que uns amam, e outros odeiam.

Berlin Affair (1985, ITA) ***


Direção: Liliana Cavani. Com: Gudrun Landgrebe, Mio Takaki, Kevin McNally, Massimo Girotti, Philippe Leroy.

Na Alemanha, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, a mulher de um diplomata apaixona-se pela filha do embaixador japonês, formando um triângulo de trágicas conseqüências. O filme, pesado e difícil, é baseado no livro A Cruz Budista, de Junchiro Tanizaki. Vele pela atriz Landgrebe e pelas cenas de amor.

A Casa Assassinada (1971, BRA) ****


Direção: Paulo César Saraceni. Com: Norma Benguell, Carlos Kroeber, Nélson Dantas, Augusto Lourenço, Rubens Araújo, Leina Krespi, Josef Guerreiro, Nuno Veloso, Tetê Medina.

Recém-casada chega à casa da família do marido no interior de Minas. O clima pesado da casa a aborrece, e ela refugia-se no quarto de um cunhado, que é homossexual. Por esse motivo, a família o mantém escondido. Ocorre uma tragédia, e ela vai embora só voltando dezessete anos depois, doente. Versão da novela do mineiro Lúcio Cardoso, provavelmente com algo de biográfico. Um drama sufocante, de atmosfera pesada de repressão, a exemplo do importante Porto de Caxias, do mesmo diretor. Ótimos desempenhos de Norma e Kroeber. Música de Antônio Carlos Jobim.

Tootsie (1982, EUA) ****


Direção: Sydney Pollack. Com: Dustin Hoffman, Jessica Lange, Terri Garr, Dabney Coleman, Charles During, Sydney Pollack, Geena Davis, Bill Murray.

Em Nova York, irascível ator de teatro só encontra trabalho quando se veste de mulher. Complicações começam a acontecer quando ele se apaixona por amiga, que corresponde mesmo pensando tratar-se de outra mulher. Hoffman dá um show travestido de estrela de TV, nessa que foi uma das mais rentáveis comédias do cinema. Jessica Lange ganhou o Oscar de coadjuvante.

Eduardo II (1991, ING) ***


Direção: Derek Jarman. Com: Steven Waddington, Andrew Tiernan, Tilda Swinton, Nigel Terry, John Lynch, Dudley Sutton, Jerome Flynn, Kevin Collins, Annie Lennox.

Biografia do rei inglês Edward II (1284-1327), detendo-se em sua paixão por um plebeu e que, tornada pública, o levou à ruína. O diretor Jarman (Caravaggio) realiza nesta fita panfletariamente gay uma espécie de súmula de todas as características que definem seu estilo. Apesar de por vezes desnecessariamente "politizado" e de desenvolver-se em ritmo lento, o filme tem muita classe. É uma produção econômica, com cenários reduzidos ao mínimo e dispostos em um grande galpão. O diretor recorre a todas as artes para fazer sua narrativa (uma adaptação muito pessoal da peça de Christopher Marlowe) avançar: há números de dança, a presença do quarteto de cordas Elektra tocando Mozart e a delirante participação da cantora Annie Lennox (ex-Eurythmics) interpretando Ev´rytime We Say Goodbye, do compositor (também homossexual) Cole Porter. A belíssima sonora é assinada por Simon Fisher Turner, que aqui também canta a famosa Jingle Bells. Interessantes idéias cênicas, estética homossexual, crítica violenta à hipocrisia britânica e uma obra de arte bem-acabada, coerente com a sua proposta. A estonteante Tilda Swinton foi a melhor atriz no Festival de Veneza pelo papel da esposa rejeitada do rei, e a fita ganhou o Prêmio FIPRESCI de melhor filme jovem no Festival de Berlim de 1992.

Zorro - Entre a Espada e As Plumas (1981, EUA) ***


Direção: Peter Medak. Com: George Hamilton, Lauren Hutton, Brenda Vaccaro, Donovan Scott.
Don Diego de La Vega é um filho homossexual do famoso justiceiro. Paródia das aventuras de Zorro, na qual Don Diego de La Vega é um herói um tanto trapalhão, freqüentemente auxiliado por seu irmão gêmeo, que encarna um Zorro heterossexual. O roteiro é meio irregular, mas o filme é engraçado. Exibido nos cinemas como As Duas faces do Zorro.

Parceiros da Noite (EUA, 1980) **


Direção: William Friedkin. Com: Al Pacino, Kereen Allen, Paul Sorvino, Richard Cox, Don Scardino.

Policial nova-iorquino muda-se para uma região de homossexuais e faz-se passar por um deles para encontrar assassino que age apenas nessa área. Por ocasião do lançamento, provocou muita polêmica, e grupos gays realizaram passeatas em protesto contra a trama preconceituosa, o que causou espanto porque Friedkin havia feito, dez anos antes, o ousado, à época, Os Rapazes da Banda. Filmado em locações em Nova York, o mundo homosexual aperece como degradante, anormal e soturno. O roteiro faz supor que o homossxualismo é uma doença contagiosa.

Entre Amigos (1991, EUA) ***


Direção: Steve Rash. Com: Kevin Bacon, Linda Fiorentino, John Malkovich, Joe Mantegna, Ken Olin, Toni Spiridakis, Tom Waits, Chloe Webb, Jamie Lee Curtis, Jenny Wright, Ed Marinaro.

Grupo de amigos que se dispersou com o tempo reúne-se no bairro de Queen, na vizinhança de Nova York, onde todos nasceram, para assistir a um casamento. O roteiro de Spiridakis é semi-autobiográfico e lembra bastante a estrutura de O Reencontro, de Lawrence Kasdan. Sem a mesma riqueza existencial, o texto perfila com humor as frustrações e velhas esperanças de trintões que não tiveram sucesso na vida. Esta comédia romântica seria inexpressiva não fossem as qualidades dos atores, em especial a espontaneidade de Bacon (A Grande Comédia), a sutileza de Malkovich (O Céu nos Protege), o cinismo de Waits (Ironweed) e a deliciosa participação de Curtis (Meu Primeiro Amor).

Dois Tiras meio Suspeitos (1982, EUA) *


Direção: James Burrows. Com: Ryan O´Neal, John Hurt, Kenneth McMillan, Robyn Douglas.

Para resolver crimes cometidos entre homossexuais de Los Angeles, um policial gay e outro machão precisam fungir que são amantes. Paródia de Parceiros da Noite.

O Beijo da Mulher-Aranha (1985, BRA/EUA) ***


Direção: Hector Babenco. Com: William Hurt, Raul Julia, José Lewgoy, Sônia Braga, Nuno Leal Maia, Denise Dumont.

Um ativista político e um homossexual são encarcerados na mesma cela de uma prisão de um país sul-americano em regime ditatorial. Os dois, parecendo completamente diferentes, vão descobrir nesse contato forçado que são mais parecidos do que imaginam. Baseado em livro do argentino Manuel Puig, concorreu ao Oscar de melhor filme, diretor, roteiro e ator, este recebido por William Hurt, também premiado no festival de Cannes.

Querelle (1982, FRA/ALE) **


Direção: Rainer Werner Fassbinder. Com: Brad Davis, Franco Nero, Jeanne Moreau.

Marinheiro envolve-se com homens e mulheres. Narrativa confusa, livremente inspirada em livro de Jean Genet, com seqüências fortes de homossexualismo. Destacam-se a luz e o belíssimo cenário teatral. Último filme de Fassbinder.

Perdidos na Noite (1969, EUA) ****

Direção: John Schlesinger. Com: Jon Voight, Dustin Hoffman, Brenda Vaccaro, Sylvia Miles, John McGiver.
Um texano simplório chega a Nova York com o propósito de enriquecer como prostituto de mulheres ricas e liga-se afetivamente a um marginal, com quem enfrenta a dura realidade nova-iorquina. Com doses de triste humor e emoção, o diretor inglês Schlesinger mostra a vida nas sarjetas, ao som de trilha impecável, com canções de sucesso da época e temas originais do compositor inglês John Barry, de Corpos Ardentes e dos filmes de James Bond. Forte e ousado para a época. Oscar de melhor filme, direção e roteiro (Waldo Salt, baseado em romance de Leo Herlihy).

Meu Marido de Batom (1986, FRA) ***


Direção: Bertrand Blier. Com: Gérard Depardieu, Michel Blanc, Miou-Miou.

Casal em crise e sem dinheiro conhece, em um baile, um fanfarrão que parece ser a solução para seus problemas. A partir daí, suas vidas mudam radicalmente. A brilhante atuação de Michel Blanc valeu-lhe o prêmio de melhor ator em Cannes, em 1987. Humor irreverente num dos trabalhos mais ousados de Blier (Corações Loucos).

Ases Indomáveis (1986, EUA) ***

Direção: Tony Scott. Com: Tom Cruise, Kelly McGillis, Anthony Edwards, Tom Skerritt, Val Kilmer, Michael Ironside, John Stockwell, Meg Ryan, Rick Rossovich, Tim Robbins, James Tolkan.

A rotina de jovens pilotos de uma base aérea norte-americana, repleta de velhos clichês. A história é bem contada, com algum bom humor e uma estonteante intervenção de moderníssimos jatos. Ganhou o Oscar de melhor canção, Take My Breath Away, de Giorgio Moroder e Tom Withlock, executada pelo grupo Berlin. Rendeu farta bilheteria graças também ao badalado Tom Cruise.

sábado, 28 de junho de 2008

Mishima, Uma Vida em Quatro Capítulos (1985, EUA) ****

Direção: Paul Schrader. Com: Ken Ogata.


Biografia do escritor, dramaturgo, ator de cinema e militarista japonês Yukio Mishima, que se suicidou em nome de controvertidas posições ideológicas. Sua obra, seus amores homossexuais, seu exército particular. Schrader conta tudo de forma estilizada. Maravilhosa trilha sonora de Phillip Glass e rica fotografia em cores e preto-e-branco. Proibidos pela família Mishima de revelar detalhes escabrosos da vida do herói, os realizadores concentraram-se nos últimos momentos do personagem, culminando no suicídio ritual japonês. Filme de muitos méritos embora difícil de digerir.

Ardida como Pimenta (1953, EUA) ****

Direção: David Butler. Com: Doris Day, Howard Keel, Allyn Ann McLerie, Phillip Carey.


Mulher de língua afiada, a indomável Calamity Jane promete trazer para a sua cidade uma famosa cantora. Mas leva, por engano, a empregada dela, que se transforma na sensação local. Faroeste musical com a talentosa Doris Day em uma performance irresistível, no mesmo estilo que a celebrizou em várias comédias românticas. Entre as boas canções do filme, Secret Love, que ganhou o Oscar.

Cabaret (1972, EUA) *****

Direção: Bob Fosse. Com: Liza Minelli, Joel Grey, Michael York, Helmut Girem, Fritz Wepper, Marisa Berenson.
No início dos anos 1930, na decadente Berlim, vicejam todos os tipos de vício. Ao mesmo tempo, os nazistas começam a firmar-se e prometem uma "limpeza". No Kit Kat Klub, uma cantora americana faz o que pode no palco enquanto espera um convite da UFA (espécie de grande estúdio alemão nos moldes da Hollywood da época) e divide seu amante inglês com um barão alemão homossexual. Adaptação muito bem-sucedida de contos sobre Berlim, de autoria do inglês Christopher Isherwood e do musical que eles inspiraram, de grande sucesso na Broadway. Interessante a estrutura, que coloca um mestre-de-cerimônias para introduzir cenas do Kit Kat Klub e passagens da trama. Ganhou oito Oscar incluindo melhor diretor, atriz (Liza), ator coadjuvante (Grey), fotografia e trilha sonora adaptada.

Pixote, A Lei do mais Fraco (1980, BRA) *****

Direção: Hector Babenco. Com: Fernando Ramos dos Santos, Marília Pera, Jardel Filho.
Menores fogem de um reformatório e passam a viber com uma prostituta. Retrato cru da vida dos menores abandonados em grandes cidades brasileiras, que a alguns críticos se parece com Os Esquecidos, de Luis Buñuel. Marília Pera foi eleita a melhor atriz do ano pela Associação dos Críticos de Nova York. Muito bem recebido nos Estados Unidos, abriu caminho para o diretor Babenco (O Beijo da Mulher-Aranha, Ironweed) no mercado americano; foi considerado o terceiro melhor filme estrangeiro dos anos 1980 (atrás apenas de Fanny e Alexandre e Ran) numa enquente entre críticos nos EUA.

Ben Hur (1959, EUA) *****


Direção: William Wyler. Com: Charleston Heston, Stephen Boyd, Haya Harareet, Jack Hawkins, Hugh Griffith, Martha Scott, Sam Jaffe, Cathy O´Donnell, Finlay Currie, Frank Thring.

Em Jerusalém, no início da Era Cristã, o rico Judá Ben Hur começa a identificar-se com seus compatriotas que querem livrar-se do domínio de Roma e acaba entrando em conflito com seu amigo de infância, o romano Messala. Um acidente faz com que Ben Hur seja enviado às galés, mas sua sorte muda quando, durante uma batalha naval, ele salva a vida de um rico e poderoso nobre romano, que o adota como filho e o leva a Roma. Superprodução épico-religiosa da Metro, excelente exemplo de filme de aventura, recordista em número de Oscar (ganhou onze, inclusive de melhor filme). Rock Hudson, Marlon Brando e Burt Lancaster recusaram o papel-título que deu a Heston o Oscar de melhor ator; o coadjuvante Griffith, o diretor Wyler, o fotógrafo Robert Surtees e o músico Miklos Rozsa também levaram a estatueta.

Morte em Veneza (1971, ITA) ****

Direção: Luchino Visconti. Com: Dirk Bogarde, Bjorn Andersen, Silvana Mangano, Mark Burns, Marisa Berenson.


Hospedado em um hotel de veraneio em Veneza, no início do século XX, compositor austríaco sente atração compulsiva por um adolescente polonês e, por isso, tenta reencontrar a juventude enquanto rememora suas discussões filosóficas com um amigo. Baseado em novela que o escritor alemão Thomas Mann (1875-1955) escreveu inspirado na personalidade do compositor austríaco Gustav Mahler (1860-1911), cujas 3a Sinfonia e 5a Sinfonia compõem a trilha sonora, esse filme carrega as marcas registradas de Luchino Visconti (1906-1976). O impacto visual (cenários de Piero Tosi e fotografia de Pasquale de Santis) é o grande valor do filme apesar da competência com que o diretor discute as relações entre arte e realidade. A interpretação de Dick Bogarde é perfeita assim como a beleza de Silvana Mangano (1930-1989).

Tudo O que Você Sempre Quis Saber sobre Sexo e Tinha Medo de Perguntar (1972, EUA) ***


Direção: Woody Allen. Com: Woody Allen, John Carradine, Lou Jacobi, Louise Lasser, Anthony Quayle, Tony Randall, Lynn Redgrave, Burt Reynolds, Gene Wilder, Jack Barry.


Sete episódios de no máximo 15 minutos, livremente inspirados no livro homônimo do Dr. David Rubem. Afrodisíacos Funcionam?: bobo da corte envolve-se com a rainha. O que é Sodomia?: médico judeu apaixona-se por uma ovelha. Por que Algumas Mulheres Têm Problemas para Chegar ao Orgasmo?: casal precisa tranar em lugares perigosos para ter prazer. São os Travestis Homossexuais?: velho veste-se de mulher na casa dos sogros de sua filha. O que São Pervertidos?: programa de TV explora casos bizarros. As Descobertas de Médicos e Clínicas que Fazem Pesquisa Sexual São Corretas?: cientista cria um seio gigante. O que Acontece Durante a Ejaculação?: o funcionamento do corpo de um homem "por dentro". Allen filmou também um oitavo episódio, O que Torna um Homem Homossexual?, eliminado da montagem final. O conjunto tem altos e baixos, mas ainda hoje conserva uma notável irreverência, satirizando sem piedade alguns tabus da sociedade norte-americana. O melhor dos episódios é sem dúvida o último, pequena obra-prima em que o próprio Allen interpreta um espermatozóide medroso antes do início da "missão".

Juventude Transviada (1955, EUA) ****


Direção: Nicholas Ray. Com: James Dean, Natalie Wood, Jim Buckus, Sal Mineo, Ann Doran, Dennis Hopper, Corey Allen, Edward Platt.

Adolescente filho de pais ricos, ao mudar-se para outra cidade, tem de adaptar-se ao novo ambiente e acaba se metendo em encrencas com rapazes e garotas de sua idade - e também com a polícia. Um dos grandes méritos desse filme, baseado em história original do próprio diretor, é o de mostrar que a delinqüência juvenil não é privilégio exclusivo de favelados. Outro é o de ter reunido um extraordinário elenco jovem, o que o tornou uma das obras mais significativas a utilizar como tema o chamado conflito de gerações. O filme só tem um senão: o mal-sucedido processo Warnercolor, que dá um tom estranho à bela fotografia do competente Ernest Haller (um dos diretores de fotografia de ...E O Vento Levou).

Recrutas em Desfile (1982, ING) ***

Direção: Michael Blakemore. Com: John Cleese, Denis Quilley, Micheal Elphick, Nicola Pagett, Bruce Payne, Simon Jones, Joe Melia, John Quayle, Julian Sands.

No final da década de 1940, soldado é transferido para um posto militar em Cingapura, onde se integrará a um grupo de dança e canto dirigido por um oficial homossexual. Adaptação de uma peça teatral de Peter Nichol, o filme refere-se à verídica SADUSEA, sigla da unidade que entretinha os soldados no Sudeste Asiático do pós-guerra. É um filme muito particular, pois junta o mais escrachado dos humores - que beira o caricatural com a personificação dos transformistas - com fortes elementos dramáticos e alguns bons números musicais, que satirizam desde Carmen Miranda até a dupla Fred Astaire & Ginger Rogers. Cleese (ex-Monty Python) é o comandante heterossexual da unidade, e Sands (Noites com Sol) faz uma ponta como um marinheiro gay.

Nijinsky - Uma História Verdadeira (1980, ING) ****

Direção: Herbert Ross. Com: Alan Bates, George de La Peña, Leslie Brownie, Ronald Pickup, Ronald Lacey, Colin Blakely, Jeremy Irons, Alan Badel.
A vida do famoso bailarino e coreógrafo Vaslav Nijinsky, com destaque para sua relação profissional e amorosa com Sergei Diaghilev, empresário do Balé Russo, seu casamento com Romola de Pulsky e seu processo de loucura. Biografia em produção requintada e com direção preciosista de Ross (Sonhos de Um Sedutor), em momento inspirado. Apesar de uma certa liberdade em relação aos fatos reais, é bastante fiel à conturbada personalidade do bailarino. Indicado para amantes da dança e de dramas humanos desenvolvidos com sensibilidade, explora muito bem os detalhes e, às vezes, beira a ousadia. Grandes interpretações, em especial de Bates (Diaghilev) e Irons (Fokhine).