segunda-feira, 7 de julho de 2008

Segredos de Uma Novela (1991, EUA) ***


Direção: Michael Hoffman. Com: Sally Field, Kevin Kline, Robert Downey Jr, Cathy Moriathy, Whoopi Goldbreg, Elisabeth Shue, Carrie Fisher, Garry Marshall, Teri Hatcher.

Premiada atriz de telenovela enfrenta as agruras da profissão ao saber que seu novo galã será seu ex-marido. Paralelamente, outra atriz seduz o produtor e faz de tudo para prejudicar a consagrada colega. Apesar de alguns exageros (caso da desastrada visita da protagonista ao apartamento do ex-marido), o roteiro oferece um divertido e fiel retrato do verdadeiro turbilhão que envolve os atores no que diz respeito ao seu egocentrismo, às suas vaidades e aos seus anseios emocionais. O epílogo, surpreendente, é extremamente engraçado: lava toda a roupa suja do elenco diante de milhões de expectadores. Esta desvairada farsa conta ainda com bons atores, entre os quais se destacam Field (Norma Rae) e Kline (Um Peixe Chamado Wanda). O diretor Marshall (Uma Linda Mulher) participa como um dos cvhefes de estúdio. A ótima Whoopi (Ghost), porém, tem um papel pequeno demais - que desperdício!

Vida Nua (1975, ING) ***


Direção: Jack Gold. Com: John Hurt, Liz Gebhardt, Patricia Hodge, Colin Higgins, John Rhys-Davies.

Biografia de Quentin Crisp, homossexual que assumiu sua condição na Londres dos anos 1940. Telefilme da BBC, com roteiro debochado de Phillip Mackie, forma encontrada para traduzir, dramaticamente, a própria personalidade de Crisp, que ajudou na elaboração do filme. A interpretação de Hurt reproduz toda a afetação de Crisp - que pode parecer uma caricatura, mas é apenas uma composição fiel à realidade. O roteiro pula no tempo, foca-se em momentos cruciais e estende-se até a década de 1970.

O Gigolô Americano (1980, EUA) **


Direção: Paul Schrader. Com: Richard Gere, Lauren Hutton.

Um profissional do amor apaixona-se por uma cliente e passa a enfrentar problemas daí decorrentes. Um filme estilizado e frio, mas elegante, que lança Gere como "símbolo sexual". A trilha musical de Giorgio Moroder fez sucesso na época.

Caravaggio (1986, ING) ***


Direção: Derek Jarman. Com: Nigel Terry, Sean Bean, Michael Gough.

Biografia aventuresca do pintor italiano Michelangelo Merisi Caravaggio, que tinha tanto talento para a pintura quanto para a vida mundana. Elenco competente no qual se destaca Nigel Terry (Excalibur). Em meados dos anos 1980, o diretor Jarman foi um dos mais polêmicos expoentes da então nova safra de diretores ingleses.

A Ópera do Malandro (1985, BRA) ***


Direção: Ruy Guerra. Com: Edson Celulari, Ney Latorraca, Cláudia Ohana, Fábio Sabag, Elba Ramalho.

Bandidos cheios de humanismo e mocinhas meio marginais numa história agradável, com a qual o diretor transpõe para o cinema a peça de Chico Buarque de Holanda, por sua vez inspirada em A Ópera dos Três Vinténs, de Bertold Brecht. Uma versão divertida e solta, caracteristicamente brasileira, ambientada nos anos 1940, época da II Guerra Mundial. Boas canções na trilha sonora (algumas não estão no LP duplo original da peça de Chico). Destaque para a presença do ator Edson Celulari.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Manequim (1987, EUA) ***


Direção: Michael Gottlieb. Com: Andrew McCarthy, Kim Cattrall, Estelle Getty, G. W. Bailey, James Spader, Carole Davis.


Empregado de um magazine faz vitrinas muito atraentes, auxiliado por uma princesa egípcia vinda do passado. Ela disfarça-se de manequim. O diretor não tem o talento de Frank Capra, o mestre cujo estilo é lembrado nesse filme, que, contudo, é divertido. G. W. Bailey (o sargento da série Loucademia de Polícia) faz um guarda-noturno da loja (acompanhado de um cachorro buldogue que é a cara dele).

Uma Questão de Amor (1978, EUA) ***


Direção: Jerry Thorpe. Com: Gena Rowlands, Jane Alexander, Ned Beatty, Bonnie Bedelia, Jocelyn Brando, Clu Gulager.

Enfermeira separada e seus dois filhos (um adolescente e um menino) moram com a amante e a filha dela. Ao saber da relação lésbica da mãe, o rapaz conta ao pai, que exige a guarda do caçula. O caso vai parar num tribunal. História verdadeira, com roteiro de William Blinn, narrada com competência e sobriedade, como é freqüente nas produções feitas para a TV. Ótimos desempenhos, principalmente o de Gena Rowlands como Linda Rae. No papel de sua mãe está Jocelyn Brando, irmã de Marlon. A maior parte do filme trata das questões jurídicas, mantendo o ritmo, a tensão e a expectativa. Narrativa pesada, mas emocionante e informativa.

O Fiel Camareiro (1983, ING) ****


Direção: Peter Yates. Com: Albert Finney, Tom Courtenay, Edward Fox, Zena Walker, Eileen Atkins.

Velho ator shakespeariano só faz sucesso graças à constante presença de seu fiel e compreensivo camareiro. Belas interpretações de Finney e Courtenay. Indicado para quem gosta de filmes sobre as obras de Shakespeare. Baseado em peça de Ronald Hardwood.

Paixão Selvagem (1976, FRA) *


Direção: Serge Gainsbourg. Com Jane Birkin, Joe Dallesandro, Huges Quester, Gérard Depardieu, Michel Blanc.

Dois caminhoneiros mantêm relações homossexuais, mas seu romance é tumultuado quando um deles se apaixona por uma mulher com aparência de rapazinho. O cantor e compositor Gainsbourg fez este filme para escandalizar. Participações especiais de Gérard Depardieu e Michel Blanc (que depois formariam o casal homossexual de Meu Marido de Batom).

quinta-feira, 3 de julho de 2008

O Segredo de Brokeback Mountain (2005, EUA)


Direção: Ang Lee. Com: Heath Ledger, Jake Gyllenhaal, Michelle Williams, Anne Hathaway, Randy Quaid, Linda Cardellini, Anna Faris, Scott Michael Campbell, Kate Mara, Cheyenne Hill, Brooklynn Proulx, Tom Carey.

'Eu não queria ver o filme O Segredo de Brokeback Mountain. Não queria. Ver filme de viados, eu? (Escrevo viado porque, como disse Millôr, quem escreve “veado” é viado). Muito bem; eu resistia à idéia, mais ou menos como o Larry David (o roteirista de Seinfeld) disse, num artigo engraçadíssimo, que tinha medo de virar gay se ficasse emocionado.
O viado sempre encarnou a ambigüidade de nossos sentimentos. Claro que, hoje, os civilizados todos dizem que “tudo bem, que são contra a homofobia” e todo o bullshit costumeiro. Eu mesmo já fiz filmes em que viados são protagonistas, em que o ator principal escolhe o homosexualismo no final (Toda Nudez Será Castigada), já filmei travesti em Eu te Amo e em Eu Sei Que Vou te Amar, além da biba louca de O Casamento, em que o grande ator André Valli dá um show inesquecível. Em todos os meus filmes há uma boneca ativa e digna. E, no entanto, eu não queria ver o tal filme do Ang Lee, apelidado pelos machistas finos de “Chapada dos Viadeiros”. Minhas razões eram mais discretas, intelectuais: “Ah... porque o Ang Lee é um cineasta mediano, ah... porque será mais um filme politicamente correto, no qual o amor de dois caubóis é justificado romanticamente... Vou fazer o quê no cinema? Ver mais um panfletinho que ensina que os gays devem ser compreendidos em seu 'desvio'? "Não. Não vou”, pensei. Aliás, eu sou do tempo em que os viados apanhavam na cara em plena rua. Havia pouquíssimos gays declarados no Brasil. No Rio, havia Murilinho... cantor de fox em boates, havia Clovis Bornay e poucos outros... O viado passava na rua sob os rosnados dos boçais prontos para lhes tirar sangue. E, no anonimato, enxameavam os pobres “pederastas”, de terno e gravata, pais de família esgueirando-se nas esquinas, nas noites escuras, em busca de satisfação. Mais tarde, com o tempo, surgiram as “bichas loucas”, que se assumiam com um toque de autoflagelação, de autoderrisão, caricaturas da mãe odiada e amada, que berravam e desfilavam nos carnavais num freje humorístico, que até hoje alimenta nossos shows na TV. A “bicha” virou uma personagem clássica do humor, como os palhaços e os bacalhaus de circo. E tudo bem... são engraçados mesmo. Depois, com os direitos civis dos anos 1960, surgiu o gay power, com homossexuais fortes e de bigode, malhados, cheios de orgulho. A viadagem virou um poder político importante, claro, mas até meio sério demais, aspirando a uma “normalidade” que contrariava sua “missão” trangressiva que tanto nos acalmava. Como disse Paulo Francis, um dia, sacaneando-os: “Se esses caras querem todos os direitos e deveres dos caretas como nós, qual é então a vantagem de ser viado?” Em suma, por mais que "aceitemos" os gays, eles sempre foram uma fonte de angústia, pois atrapalham nosso sossego, nossa identidade "clara". O gay é duplo, é dois, o viado tem algo de centauro, de ameaçador para a unicidade do desejo. A bicha ou o travesti, a biba doida ou o perobo, o boy, o puto, a santa, a tia, a paca, todos eles nos tranqüilizavam com suas caricaturas auto-excludentes. Já o gay sério inquieta. O gay banqueiro, o gay de terno, o gay forte, o gay caubói são muito próximos de nós, a diferença fica mínima. Por isso, eu não queria ver o tal filme dos caubóis. Como? Caubói de mãos dadas, dando beijos românticos, com tristes rostos diante do impossível? Não. Eu, não. Mas, aí, por falta de programa, "distraidamente"... (aí, hein, santa?...) fui ver o filme. E meu susto foi bem outro. O filme não me pedia aprovação alguma para o homossexualismo, o filme não demandava minha solidariedade. Não. Trata-se de um filme sobre o império profundo do desejo, e não uma narração simpática de um amor "desviante". O filme impõe-se assustadoramente. Os caubóis jovens e fortes amam-se com um tesão incontido e são tomados por uma paixão que poucas vezes vi num filme, hetero ou não. Foi preciso um chinês culto para fazer isso. Americano não agüentava. Nem europeu, porque iria ficar filosofando. Brokeback é imperioso, realista, sem frescuras. Eu fiquei chocado, dentro do cinema, quando os dois começam a transar subitamente, beijando-se na boca com a fome ancestral vinda do fundo do corpo. O filme não demandava a minha compreensão. Eu é que tinha de pedir compreensão aos autores do filme, eu é que tive me adaptar-me à enorme coragem da história de Ang Lee. Eu é que precisava de apoio dentro do cinema, flagrado, ali, desamparado no meu machismo "tolerante". Eu é que era o careta, eu é que era o viado no cinema, e eles, os machos corajosos, desejando-se não como pederastas passivos ou ativos, mas como dois homens sólidos, belos e corajosos, entre os quais um desejo milenar explodiu. Não há no filme nada de gay, no sentido alegre, ou paródico ou humorístico do termo. Ninguém está ali para curtir uma boa perversão. Não. Trata-se de um filme de violento e poderoso amor. É dos mais emocionantes relatos de uma profunda entrega entre dois seres, homos ou heteros. Acaba em tragédia, claro, mas não são "vitimas da sociedade". Não. Viveram acima de nós todos porque viveram um amor corajosíssimo e profundo. Há qualquer coisa de épico na história, muito mais do que romântica. Há um heroísmo épico, grego, como entre Aquiles e Pátroclo da "Ilíada", algo desse nível. O filme não é importante pela forma, linguagem ou coisa assim. Não. Ele é muito bom por ser uma reflexão sobre a fome que nos move para os outros, sobre a pulsação pura de uma animalidade dominante, que há muito tempo não vemos no cinema e na literatura, nesses tempos de sexo de mercado e de amorezinhos narcisistas. Merece os Oscar que ganhou. Este filme amplia a visão sobre nossa sexualidade'.
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Arnaldo Jabor
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Hotel muito Louco (1984, EUA) ***


Direção: Tony Richardson. Com: Rob Lowe, Jodie Foster, Paul McCrane, Beau Bridges, Nastassja Kinsky, Wallace Shawn, Wilford Brimley, Jennie Dundas, Matthew Modine, Amanda Plummer, Seth Green.

Um professor e sua família vivem obcecados com a idéia de ir morar em um hotel e acabma por realizar esse sonho. Mas todos os personagens - inclusive criados e hóspedes do hotel - nada têm de convencional e envolvem-se em aventuras sociais, políticas e sexuais bizarras. Para público disposto a arriscar uma diversão cinematográfica fora dos padrões habituais, no estilo solto e mordaz do diretor de Tom Jones. Baseado no romance de John Irving.

terça-feira, 1 de julho de 2008

A Cor Púrpura (1985, EUA) ****


Direção: Steven Spielberg. Com: Danny Glover, Adolph Caesar, Whoopi Goldberg, Margareth Avery, Oprah Winfrey, Rae Dawn Chong, Akosua Busia.

Adolescente negra da Geórgia, no sul dos EUA, é engravidada pelo próprio pai, que a separa dos filhos, da irmã (sua melhor amiga) e a entrega a um negro dono de terras, com quem ela se casa. O marido, no entanto, passa a tratá-la como escrava. Em cartas dirigidas a Deus, ela conta suas frustrações. A história, baseada em romance de Alice Walker, começa em 1909 e acompanha os personagens, durante quarenta anos, num painel ambicioso e melodramático da presença negra na história do país. Tecnicamente excepcional, com brilhante uso da fotografia e da trilha sonora (composta pelo também produtor Quincy Jones), o filme abusa de clichês sentimentais para arrancar lágrimas da platéia. Feito para ganhar o Oscar, foi indicado em onze categorias, mas não venceu em nenhuma.